terça-feira, 5 de julho de 2011

Níveis de aprendizagem da leitura e da escrita: Diagnóstico necessário!

COMO IDENTIFICAR OS NÍVEIS DE APRENDIZAGEM EM QUE SE ENCONTRAM OS NOSSOS ALUNOS, DENTRO DE UMA PERSPECTIVA SÓCIO-CONSTRUTIVISTA?

A caracterização de cada nível não é estanque, podendo a criança estar numa determinada hipótese e mesclar conceitos do nível anterior. Tal “regressão temporária” demonstra que sua hipótese ainda não está adequada a seus conceitos.

Emília Ferreiro e Ana Teberosck, para detectar o nível de conceitualização da criança, sugerem um ditado individual de quatro palavras, evitando ditar o monossílabo em primeiro lugar, (monossílaba, dissílaba, trissílaba, polissílaba) e uma frase. Em seguida, pedirá à criança para “ler” o que escreveu, com a finalidade de entender como ela “lê”.

Nas características e desafio dos níveis no processo de alfabetização, as autoras colocam que, em cada nível, a criança elabora suposições a respeito dos processos de construção da leitura e escrita, baseando-se na compreensão que possui desses processos.

Dessa forma, a mudança de um nível para outro só ocorrerá quando se deparar com questões que o nível em que se encontra não puder explicar: elaborará novas suposições e novas questões e assim sucessivamente. Em decorrência, pode-se dizer que o processo de assimilação de conceitos é gradativo, o que não exclui “idas e vindas” entre os níveis.

1. Nível 1 - Hipótese Pré- Silábica - Intermediário I 
A criança:


Não estabelece vínculo entre a fala e a escrita;
Supõe que a escrita é outra forma de desenhar ou de representar coisas e usa desenhos, garatujas e rabiscos para escrever;
Demonstra intenção de escrever através de traçado linear com formas diferentes;
Supõe que a escrita representa o nome dos objetos e não os objetos;coisas grandes devem ter nomes grandes, coisa pequenas devem ter nomes pequenos;
Usa letras do próprio nome ou letras e números na mesma palavra;
Pode conhecer ou não os sons de algumas letras ou de todas elas;
Faz registros diferentes entre palavras modificando a quantidade e a posição e fazendo variações nos caracteres;
Caracteriza uma palavra com uma letra inicial;
Tem leitura global, individual e instável do que escreve: só ela sabe o que quis escrever;
Supõe que para algo poder ser lido precisa ter no mínimo de duas a quatro grafias, geralmente três (hipóteses da quantidade mínima de caracteres);
Supõe que para algo poder ser lido precisa ter grafias variadas (hipótese da variedade de caracteres).
* Desafio: Qual é o significado dos sinais escritos? 


2. Nível 2 – Hipótese Pré- Silábica - Intermediário II 

A criança:

Começa a ter consciência de que existe alguma relação entre a pronúncia e a escrita;
Começa a desvincular a escrita das imagens e números das letras;
Só demonstra estabilidade ao escrever seu nome ou palavras que teve oportunidade e interesse de gravar. Esta estabilidade independe da estruturação do sistema de escrita;
Conserva as hipóteses da quantidade mínima e da variedade de caracteres.
* Desafio: Como resolver a hipótese de que a escrita se vincula com a pronúncia das partes da palavra?


3. Nível 3- Hipótese Silábica


A criança:

Já supõe que a escrita representa a fala;
Tenta fonetizar a escrita e dar valor sonoro às letras;
Pode ter adquirido, ou não, a compreensão do valor sonoro convencional das letras;
Já supõe que a menor unidade da língua seja a sílaba;
Supõe que deve escrever tantos sinais quantas forem às vezes que mexe a boca, ou seja, para cada sílaba oral corresponde uma letra ou um sinal;
Em frases, pode escrever uma letra para cada palavra.
* Desafio: Como compatibilizar, na escrita ou na leitura das palavras monossílabas e dissílabas, a idéia de quantidade mínima e de variedade de caracteres, se ela supõe que as palavras podem ser escritas com uma ou com duas letras? E também:
- Ao ler as palavras que escreveu, o que fazer com as letras que sobraram no meio das palavras (almofada) ou no final (as sobrantes)?
- Se coisas diferentes devem ser escritas de maneira diferente, como organizar as letras na palavra?


4. Nível 4- Hipótese Silábico- Alfabética

A criança:

Inicia a superação da hipótese silábica;
Compreende que a escrita representa o som da fala;
Combina só vogais ou só consoantes, fazendo grafias equivalentes para palavras diferentes. Por exemplo, AO para gato ou ML para mola e mula;
Pode combinar vogais e consoantes numa mesma palavra, numa tentativa de combinar sons, sem tornar, ainda, sua escrita socializável. Por exemplo, CAL para cavalo; Passa a fazer uma leitura termo a termo (não global).
*Desafio: Como conciliar a hipótese silábica com a hipótese da quantidade mínima de caracteres? E...
- Como adequar as formas gráficas que o meio lhe propõe à leitura dessas formas?
- Como separar palavras ao escrever, quando elas não são separadas na fala?
- Como tornar a escrita socializável, possível de ser lida por outras pessoas?


5. Nível 5- Hipótese Alfabética

A criança:

Compreende que a escrita tem uma função social: a comunicação;
Compreende o modo de construção do código da escrita;
Compreende que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores menores que a sílaba;
Conhece o valor sonoro de todas as letras ou de quase todas;
Pode ainda não separar todas as palavras nas frases;
Omite letras quando mistura as hipóteses alfabética e silábica;
Não tem problemas de escrita no que se refere a conceito;
Não é ortográfica nem léxica.
* Desafio: Como entender que falamos de um jeito e escrevemos de outro? E...
- Como aprender as convenções da língua?
- Como distinguir letras, sílabas e frases?

Emília Ferreiro e Ana Teberosck, na obra Psicogênese da Língua Escrita, dizem que se entende por alfabetizada a criança que dominou a base alfabética do sistema de escrita, que lê com compreensão e escreve textos com sentido possíveis de serem lidos, mesmo que apresentem erros de ortografia.

O professor precisa levar a criança a raciocinar sobre a escrita e, para isso, ele deve criar um ambiente rico em materiais e em atos de leitura e escrita, incentivando-as. Também, deve provocar interações entre os diferentes níveis, principalmente os mais próximos. Dessa forma, o professor não precisa trabalhar necessariamente com cada aluno, mas sim lhes permitir a comunicação, que é o principal instrumento da didática da aprendizagem da alfabetização.

Isto demonstra o valor do trabalho numa classe heterogênea e o quanto ele é viável, uma vez que a homogeneidade é característica apenas dos 1ºs momentos de uma classe remanejada, pois a evolução de cada criança é pessoal.

Em todos os níveis deve-se trabalhar o som das letras do alfabeto, o reconhecimento das formas das letras e a associação grafema-fonema. “Uma mesma atividade pode servir para aluno em qualquer nível do processo, contanto que ela englobe um espaço amplo de problemas e que o professor provoque diferentemente, questões e desafios adaptados a alunos em situações desiguais dentro da psicogênese”.

O professor deve ter o cuidado de não avaliar a criança como se estivesse em outra hipótese: 

- Na escrita de pré-silábicos deve procurar avaliar tudo o que se referir a letras: o número e a ordem, seu tamanho e sua posição nas palavras e as iniciais e as finais;

- Na hipótese silábica - avaliar usando critérios alfabéticos , mas fazer análise da características da palavras no texto, dando mais ênfase à letra da 1ª sílaba e as 1ªs sílabas das palavras: “pode confrontar produções individuais e ditar palavras como mala, mole, mula que podem resultar ML ou palavras como pato, sapo, calo que podem resultar AO. Ao requerer a leitura dessas palavras, o professor coloca o aluno em conflito, uma vez que ele irá perceber que fez a mesma grafia para palavras diferentes”.

- Na hipótese alfabética, correções ortográficas não devem ser feitas e deve-se trabalhar produções individuais e coletivas dos alunos, nas letras de músicas conhecidas pelas crianças ou em qualquer texto que garanta efetivo envolvimento do aluno.

Além disso, algumas outras observações são importantes:


O professor deve considerar que não é a repetição que produz o conhecimento e, sim, o estabelecimento de múltiplas relações, o raciocínio lógico e o pensar sobre o que se faz;
A criança precisa entender a função social da escrita e a importância da linguagem oral e se sentir livre para se comunicar pela escrita e pela fala: seu texto não existe para ser corrigido, mas para ser lido e entendido;
“O papel do professor é importantíssimo.( Emilia Ferreiro disse, no Programa Roda Viva, TV Cultura, 1989, que) Se queremos alunos ativos na construção do conhecimento, o professor também tem que ser ativo. Fale menos e escute mais e trabalhe cognitivamente também com o que escuta e vê em seus alunos”.

Ao expressar-se por escrito, tudo tem sentido para a criança: um sinal, uma letra, um desenho. Para os educadores, a análise dessa maneira de escrever pode demonstrar muito. Assim, há que se fornecer à criança a oportunidade de manter um diálogo simples e de se colocar perante o mundo. Atualmente, está claro que o mais importante para a criança é, primeiramente, EXPRESSAR-SE. Ela constrói um texto sem muito significado para nós, mas é capaz de “ler” a mensagem que quis passar, e mesmo palavras mal escritas, rabiscos e desenhos iniciais deixam de ser tentativas de escrita para se tornarem escritas reais.

Alguns princípios básicos não podem ser perdidos de vista:


A pontuação e a ortografia serão trabalhadas gradativamente, respeitando-se as fases do processo pelo qual o aluno passa.
A introdução à norma culta ocorre paralelamente à capacidade de criação e se desenvolve de modo gradativo.
O professor deve ter claros os conteúdos a serem desenvolvidos ao longo do ano e trabalhá-los com flexibilidade e coerência.
O “fácil” e o “difícil” devem ser definidos tomando-se por base a perspectiva de quem aprende e não a do educador, que precisa se conscientizar de que o aluno aprende melhor e assimila com maior facilidade o que lhe interessa mais diretamente.
Repetir regras que não podem ser compreendidas não ajuda o aluno e não diz nada, nem a ele nem ao professor, que apenas orienta aqueles que sistematizam a aprendizagem.
Para que o aluno se aproxime do padrão convencional da língua, ele precisa ter modelos que possibilitem uma comparação. Por exemplo, em alguns momentos ele escreverá livremente, de acordo com suas próprias regras, seguindo seus pensamentos; em outros, o professor trabalhará modelos preparados cuidadosamente, “sem erros ortográficos”, que permitirão o confronto interior da criança.
A presença e o esclarecimento do professor neste momento de dúvida e de conflito são de fundamental importância. Não há por que dispensar exercícios e atividades que sistematizem conteúdos. No entanto, o aproveitamento será maior se os exercícios contiverem um vocabulário expressivo sugerido pelos alunos, composto por palavras que fazem parte da realidade das crianças e de seu cotidiano, que tenham relação com fatos acontecidos ou vivenciados em classe, na escola ou na comunidade.

Cabe ao professor saber direcionar a aula para chegar às palavras mais apropriadas, que possam servir melhor ao objetivo que se quer atingir.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Estresse do professor

Síndrome de Burnout é uma das causas do esgotamento profissional de docentes



Com a aproximação das férias é comum o sentimento de cansaço e fadiga, ambos resultados do esgotamento físico e psicológico do ser humano. Muito além deste tradicional ciclo, porém, cada vez mais pessoas têm sofrido com o estresse profissional, especialmente aquelas que se interrelacionam com outras pessoas para o desempenho de sua função. Um bom exemplo disso é o professor, que tem sido apontado como uma das maiores vítimas do estresse profissional, mais conhecido como Síndrome de Burnout.
A Síndrome de Burnout é causada por circunstâncias relativas às atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos, comportamentais, afetivos e cognitivos. Inicialmente foi observada em trabalhadores da área da saúde que desempenham uma função assistencial, caracterizada por um estado de atenção intenso e prolongado com pessoas em situação de necessidade e dependência. Com o passar do tempo, pôde ser identificada em outras profissões, entre elas a de professor.
De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB (Universidade de Brasília), Iône Vasques-Menezes, no caso do professor, a razão para a incidência da síndrome está ligada, sobretudo, à falta de reconhecimento. "A desvalorização do professor, seja ela por parte do sistema, dos alunos e da própria sociedade, é um dos maiores agentes para a ocorrência do Burnout", explica.
O Burnout em professores pode ser caracterizado por um estresse crônico produzido pelo contato com as demandas do ambiente acadêmico e suas problemáticas. Para a pesquisadora, especialmente aquelas que não dependem apenas da ação dos docentes para serem resolvidas. "Existem problemas que estão muito além da ação direta dos professores, principalmente onde há uma situação de degradação do sistema. Nestes casos, a sensação de impotência é mais acentuada", revela.
Além disso, o posicionamento dos alunos em sala de aula também contribui para um maior desgaste. Em muitos casos, a indisciplina é a grande responsável por uma eventual sensação de frustração e até a desmotivação do profissional. Segundo Iône, não são raros os professores que se queixam da falta de interesse dos alunos e assumem a culpa por este fato acreditando que deveriam dominar as mais diferentes técnicas para estimular o aprendizado.
Um exemplo disso é o depoimento, abaixo, do professor da UnisantïAnna, Fernando Pachi, de São Paulo.
"Acredito que a situação de maior estresse para o professor continua sendo a indisciplina em sala de aula. Mediar a relação com os alunos fica dez vezes mais desgastante em situações em que você tem de chamar a atenção, interromper a aula, pensar sempre como motivar os alunos, erguer o tom de voz. Tudo isso contribui ao longo do tempo - podem ser em meses - para uma situação de estresse e desmotivação. Isso porque o foco é sempre motivar os alunos! Aí a cobrança interna fica também bem maior, e vem uma certa sensação de fracasso quando os resultados esperados não são atingidos, ou seja, quando o curso não corre bem, por conta de uma "interação em sala de aula mal resolvida".

Importante destacar que os alunos também desempenham um papel de extrema importância no aprendizado, sejam estes de ensino fundamental, médio ou superior. Neste último caso, embora ainda em menor escala do que no ambiente escolar, tem sido freqüente a incidência de casos do Burnout - ainda que os professores não possam ser considerados os únicos responsáveis pelo desempenho de uma turma ou de determinados alunos, seja ele bom ou ruim. 
O peso do Burnout
O fato mais curioso na síndrome de Burnout é que ela atinge trabalhadores motivados, que reagem a este desequilíbrio trabalhando ainda mais. "Farber, um dos pesquisadores do Burnout discute como tema central deste sofrimento a discrepância entre o que o trabalhador investe no trabalho e aquilo que ele recebe, ou seja, os resultados obtidos. Por isso, voltamos à questão do não reconhecimento e desvalorização do professor", lembra Iône.
O modelo de progressão do Burnout é composto pelas seguintes etapas: a fase de idealismo e entusiasmo, com expectativas excessivas a respeito do trabalho; fase de progressivo estancamento e queda a respeito das expectativas iniciais; decepção e frustração e, por fim, a fase de apatia, ou seja, atitudes negativas frente ao trabalho.
Segundo Iône, é importante estar atento a esta síndrome, porque além do esgotamento psicológico, despersonalização dos profissionais e disfunções no desempenho profissional, o Burnout pode causar ainda complicações de saúde decorrentes do stress crônico e deterioração da qualidade de vida.
Com isso, a pesquisadora destaca a importância de treinar habilidades de auto-controle, identificação de pensamentos negativos, controle do estresse, utilização de apoio social com a equipe, além de trabalhar a informação sobre os aspectos de sua carência como profissional. "Estas seriam algumas das alternativas para combater o estresse profissional na busca pelo bem-estar e melhor qualidade de vida", encerra.

Sou fã desta mulher!

Só faltava essa...